O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
(Berthold Brecht)

domingo, 22 de junho de 2014

T.O.C. e SUPERSTIÇÃO

  
09 de junho de 2014
Sexta-feira 13: superstição ou TOC?
Professor de Filosofia do Colégio do Carmo aponta as diferenças


Em época de Copa do Mundo, falar em superstição é lembrar do ex-futebolista e treinador brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo. Às vésperas de mais uma sexta-feira 13, muitas crendices populares vem à mente, como entrar em lugares novos com o pé direito, bater na madeira para espantar o azar e não deixar bolsas no chão para não perder dinheiro. Mas, afinal, todas essas experiências, se repetidas várias vezes, podem virar manias?
O filósofo e professor do Colégio do Carmo, Diego Almeida Monsalvo, autor de diversos livros, entre eles, “Sujeito Oculto Inventa-se”, lançado no ano passado pela Editora Litteris, afirma que é frequente ocorrer confusão entre superstição e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
Segundo ele, quem possui TOC não é um supersticioso. “O transtorno obsessivo-compulsivo é um vício mental sem uma meta e/ou objetivo definido, pré-estabelecido. É uma reação involuntária e incontrolável”, explica. 
Monsalvo conta que a superstição é um ato deliberado, querido, com o fim de se atingir um objetivo. “É uma ação”, completa.
Abaixo, ele revela mais detalhes sobre o que é este “pensamento mágico onde deixamos que os astros decidam a nossa sorte e destinem nossas ações”, chamado superstição.

Como podemos definir superstição?
É toda crença que invoca uma tentativa de explicação, ação ou propósito que subverta a ordem da causalidade lógica, ou seja, é a crença que superestima o acaso, fazendo dele um fator possivelmente controlável e, paradoxalmente, controlador... A superstição é um ‘mapa do acaso’.
Por que as pessoas são supersticiosas?
De forma geral, somos supersticiosos, afinal, temos de lidar todos os dias, além do ordenamento lógico de nossas ações, além de uma normalidade coletiva mesmo que discutível, mas aparentemente concordada, com o imponderável, com a surpresa, aquilo que, de certa forma, confunde de imediato nossos padrões de entendimento da realidade como um todo. Afinal, o ser humano, mesmo com suas superstições, possui, ainda assim, a ‘necessidade’ de abarcar o mundo em sua consciência. 
Desde quando a superstição está presente na vida das pessoas?
Difícil datar, principalmente, se levarmos em conta um desenvolvimento gradual da nossa espécie no decorrer do espaço-tempo, mas, acredito (mais do que racionalizo sobre) que a superstição está presente na vida humana desde nosso despertar consciente, desde que nossa mente ousou, de forma geral, querer saber.
É algo que atinge um determinado perfil de pessoas ou algo que todos têm em algum grau?
Todos têm em algum grau, porém, algumas pessoas tendem a ser mais supersticiosas de acordo com seus pré-conceitos culturais. Afinal, somos frutos diretos de nossa cultura, antes de sermos ‘nós mesmos’ enquanto identidade livre.
Que tipo de perfil cultiva superstições?
Geralmente, as pessoas que cultivam superstições são menos dadas à logicidade exigida pela razão, isto é, são mais suscetíveis, mais impressionáveis. Tendem a aceitar o aleatório como recorrente e, portanto, julgam que o mesmo é uma ‘causa razoável’ para inspirar-lhes ações e ideias.
Superstição tem alguma relação com preconceito?
Sim, no sentido próprio da palavra, uma vez que a superstição é uma crença ‘desinformada’, ilógica, em busca de uma ideia que a satisfaça, que a complemente, ou seja, que a anime a achar que ‘pode ser assim’.

Por Emanuelle Oliveira
Jornalista - Mtb 59.151