O antídoto para a reportagem
escandalosa que a revista Veja publicou em 24/10/2014, sobre o possível
conhecimento da presidente Dilma Roussef a respeito de operações de propinas na
Petrobrás, está no próprio texto da matéria. “O doleiro não apresentou – e nem
lhe foram pedidas – provas do que disse.”
Assim, a denúncia premiada do
doleiro Alberto Youssef queda-se vazia, porque sem provas. E Direito é prazo e provas,
se diz no jargão jurídico. A denúncia passa a ser calúnia, crime previsto no
Código Penal: “Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato
definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a
dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre
quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
Os autores da denúncia caluniosa
ainda envolveram o ex-presidente Lula no pacote, alegando que o mesmo também
sabia do fato criminoso. Sem se aperceber, os redatores da matéria implicaram a
si mesmos, pois não denunciaram os fatos anteriormente, deixando para fazê-la
na véspera do pleito presidencial – em que a candidata Dilma Roussef
apresenta-se como favorita, segundo revelam os institutos de pesquisas de maior
credibilidade no País.
Por que Veja só disse o que sabia
faltando apenas um dia para as eleições? O fato tornado escândalo, a tão pouco tempo
do pleito, torna duvidosa a reportagem da revista. Empana a clareza do que
poderia ser verdade nas revelações apresentadas, sem provas de qualquer
espécie. O próprio depoimento do doleiro, que a Veja disse ter sido gravado em
vídeo, é apresentado num croquis feito pela arte da revista.
A cena é descrita em detalhes
(quem viu, quem contou?), relatando-se a postura física de Youssef, com os
braços em cima da mesa, junto a seu advogado. O texto da reportagem refere a
data do depoimento como “na última terça-feira”. E deu tempo para a informação
privilegiada vazar, com o croquis do faz-de-conta, e virar matéria de capa da
revista já na edição de sábado. Quem tem boca diz o que quer, e como quer – diz
o povo. Difícil vai ser provar os fatos enunciados, sacudidos precipitadamente
contra a honra da atual presidente da República e de um ex-presidente.
A revista virá a público no
próximo sábado, e a eleição será no domingo, amanhã. Uma denúncia feita para
não haver tempo de desmentido, como a cesta de basquete lograda no derradeiro
segundo, ou o gol alcançado no apito final da partida. Mas o leitor e o eleitor
saberão identificar a intenção maldosa da publicação, se houver tempo para a
leitura da matéria tão recente – divulgada como um panfleto de boca de urna, no
crepúsculo da campanha.
*Otávio Sitônio Pinto faz parte do IHGP e da APL e escreve no jornal
A União_ PARAÍBA_ às terças,
quintas e sábados.