O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
(Berthold Brecht)

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Religiosidade infantil ou infantilização da religiosidade?

Contribuição à AT REVISTA do dia 12 de Outubro de 2014 (Ano 10_ Ed. 515)
por Joyce Moysés




A entrevista na íntegra:

Qual a importância da formação espiritual/religiosa na vida da criança?
A importância é grande, uma vez que o humano é um ser dotado de inteligência, vontade e mistério, ou seja, nunca esgotaremos nossas definições enquanto seres. O mistério (lá onde a razão cala!) nos abre para a intuição e nos garante a dúvida perene (e isso é por si só maravilhoso!) de saber quem sou, como vou e para onde vou. Trabalhar o mistério, cultivá-lo enquanto fator inerente ao Homem é o princípio de qualquer formação espiritual consciente e não impositiva de uma fé alienada que, portanto, educa de forma alienante. No meu livro “Dissecando o líder” trabalho a ideia de que o conhecimento da dimensão do mistério em sua vida, a matéria bruta da religiosidade e da transcendência, é um princípio de autonomia. E educação não é ajudar a si e aos demais a desenvolverem a autonomia? Então, aí está....

Como os pais devem contribuir para essa formação?
Sendo exemplares no que fazem de acordo com o que dizem.

Se os pais não seguem uma religião – e mesmo se seguem! –, vale a pena esperar a criança crescer para decidir o caminho que quer seguir? E a partir de quando ela poderá decidir? Transmitir valores como respeito ao próximo, fazer o bem etc., enfim, dar uma boa educação cumpre/supre essa função?
Veja, é preciso que diferenciemos religiosidade de religião a, b ou c. Como disse, a religiosidade, capacidade da transcendência humana, embora faça parte, está além desta ou daquela religião. Se os pais incorporaram o hábito de serem bons segundo valores inalienáveis da condição humana, os filhos chegarão às dimensões religiosas mais próximas disso. Se tais valores fazem, verdadeiramente, parte da religião que os pais frequentam, melhor...

Como falar sobre Deus, Jesus...? Usar nomes lúdicos, como Papai do Céu, ajuda? Até quando esse recurso é válido?
Antes, é importante estarmos atentos às palavras e aos fatos que fizeram com que nascessem as religiões. Pois bem, lembrar que Jesus, Moisés e Maomé, por exemplo, apareceram como líderes sociais libertadores e, então, ensinarmos por meio das histórias reais, o quão é importante encarnarmos valores e princípios que garantam um sentido maior à minha vida e a dos demais, sem os quais extingo minha própria espécie, o lúdico e seus elementos se tornam válidos...

Se os pais tiverem dificuldade para responder algo relacionado à religião, o que fazer?
Estudar, estudar e estudar... Ninguém deveria ter a pretensão de saber tudo. Isso vale também para as nossas convicções mais íntimas. Religião que se impõe e não permite o questionamento atrofia o cérebro e costuma, inversamente, arreganhar o bolso e encher a mala dos pregadores de ocasião, falsos donos da verdade.

Nenhum comentário: