O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
(Berthold Brecht)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

As violências: entre César e Deus - A decisão do cristão, por Diego Almeida Monsalvo


Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César? Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário. Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição? De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (MT 22, 17-21) 

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. (MT 5, 5)

A violência começa pela perda ou esquecimento dos traços constituintes da radical identidade humana: Amar-Pensar. É que, justamente, no esquecimento da capacidade inata do humano de Amar-Pensar é que se instaura o que vivenciamos por violência.
O mundo ‘civilizado’ vem sofrendo por conta das guerras, conflitos e atentados, provocados por grupos ou indivíduos criminosos, cujo diálogo com o diferente (o outro) é buscado pela voz da violência. É aqui que se põe a temática em relação a estes métodos que demonstram, no mínimo, a incapacidade das pessoas e dos Estados Nacionais e seus respectivos governos, estabelecerem uma relação com a sociedade, onde o poder se expressa somente pela força de quem, no momento, está “podendo” mais.
           Se a violência for analisada a partir de seu sentido etimológico, do latim “vis”, ou seja, “força”, será possível chegar a um “consenso” entre os que ousam, ainda, acreditar no “bom senso” para resolver os problemas que se dão em suas relações interpessoais. Poder-se-á, então, concluir, que a violência desumaniza o humano; transforma-o num infinitamente pequeno perto daquilo que ele é e pode vir a tornar-se.                          
           Pois bem, se é a partir desse fato radical que a violência nos atinge à inteligência, temos agora que pensar: Qual violência? Talvez aqui encontremos o(s) perigo(s) da espécie de consumação do Homem à animalidade.
            Quando se diz violência, significa que, através de alguma força ativa, que não a argumentativa (portanto, reflexiva!), impõe-se primeiramente a outrem um “ponto-de-vista”, glamourizado pela mídia pelo nome de opinião. A opinião, por si só, não é argumentativa, na maioria das vezes, pelo contrário, ela é império de força, qual seja, a da certeza nascida de mim para comigo mesmo.
            Talvez seja possível inferir que pensar não mais nos interessa, pois estabeleceria uma atividade mais criteriosa e ética no que diz respeito ao outro. Portanto, pensar reflexivamente, seria uma parte da saída do estado de menoridade racional no qual nos encontramos. Deste modo, a questão que ainda se coloca é: Por que não interessaria o rigor do pensamento àqueles que detêm os meios de produção da riqueza social? Parece mesmo que toda pergunta já traz em si um pouco da resposta!
            A violência hoje se mostra como uma desordem escolhida ou eleita da ou (pela) demanda do Mercado. O que seria, por exemplo, das empresas de segurança patrimonial e afins, se não houvesse os “atentados” nas grandes cidades? O que seria, por exemplo, das empresas armamentistas se não houvessem as guerras e conflitos esparsos pelo mundo? Resposta: Não lucro, déficit! Exemplo pequenino esse, mas significativo.
           Se, portanto, pensar, atividade humana por excelência, não mais interessa-nos, o que dizer (então) de Amar? É que Amar-Pensar se complementam naquilo em que, de fato, por essência, o Homem se personaliza. O não amar, como ato de despersonalização do humano, já é, em si, o ato principal da violência. Se não se ama, se violenta a si mesmo e, nesse processo de auto-flagelação inconsciente, violenta-se todo o contexto de nossa realização.
            Penso que o outro tenha se tornado uma espécie de extensão daquilo que, de mim, eu quero que ele seja: um mocinho ou um bandido... Daí se explicam os frustrados desencontros “amorosos” de nossos dias, comprovados já no seio da família desfeita, quase que antes de seu início.
            Na ordem do dia se inscreve_ O ministério do Mercado adverte: Amar, assim, como seu correlato mais profundo, o Pensar, faz mal à saúde! Tal a colônia em que nos transformamos, como abelhas numa espécie de produção instintiva de “seja lá o que for” da serventia do Comércio. A violência é lucrativa, e o lucro é o árduo caminho de onde virá o céu hipotecado a cada partícipe da ordem estabelecida. O dinheiro é a marca dessa estranha Organização Criminosa, mãe de qualquer outra, seja qual for a sigla, seja qual “boa nova” trouxer.
          Então, retorno ao princípio, com a mesma indagação que não se deixa acomodar, dita, porém, agora, de outro “velho” modo: “A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”.
         Mas... Qual César? Qual Deus? Radicalmente, o cristão precisa se decidir!

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