Os três marqueteiros_Por SITÔNIO PINTO

Publico artigo, devidamente autorizado, escrito recentemente pelo colega de luta e ofício Srº SITÔNIO PINTO (é jornalista, escritor, publicitário [criador do "Lula lá"], membro do IHGP, da Academia paraibana de letras e da academia de letras e artes do nordeste).

Os marqueteiros de Serra pelejaram para ele entrar com a equipe dos socorristas na mina de São José, em Copiapó do Atacama.

─ Você é engenheiro e morou no Chile. Se você entrar naquele buraco vai gerar notícia na imprensa internacional.

─ Eu não sou engenheiro ─ disse Serra. Estudei engenharia, mas tive de abandonar o curso, pois os milicos pensaram que eu era comunista, e arribei para o Chile.

─ Por que você não arribou para Cuba?

─ Porque lá eu ia ter de fazer curso de guerrilha e voltar para o Brasil para derribar a ditadura milicar. E eu nunca fui socialista, nem revolucionário. Pequei uma carona no FHC, que também fugiu para o Chile, perseguido pelos milicos, apesar de ser filho de general. Depois, fui para a Terra de Marlboro, e, quando a barra maneirou, voltei para o Brasil.

─ Serra, se você entrar naquela serra para resgatar os mineiros presos, você vai gerar um fenômeno midiático capaz de tirar os oito pontos de vantagem que a Dilma tem.

─ Eu não entro naquele buraco nem que a mina seja de ouro. Mas é uma pobre mina de cobre, falida, que não pagou a folha de setembro e pediu concordata. É capaz de Alejandro Bohn, o dono da Minera San Esteban, que explora a mina, me cobrar ingresso para eu entrar, quando descobrir que sou candidato dos mineradores e banqueiros.

─ Cara, vai lá. Você pode até encontrar o Paulo Preto e os quatro milhões que ele levou na cueca. Ele pode estar escondido naquele buraco.

─ Vocês são uns amigos da onça, ou da Dilma. A mina fica no Atacama, o deserto mais seco, mais frio e mais alto do mundo, cheio de vulcões. Em algumas partes é um deserto absoluto, sem um pé de espinhos. Já passou quatro séculos sem chover, mesmo na beira do mar, pois é um deserto litorâneo. Bem que eu gostaria de levar o Atacama para o Nordeste, para dar uma lição àqueles eleitores da Dilma, criadores de bodes e jumentos. No Atacama pelo menos tem guanacos, em vez de jegues. Já disse: não entro naquela mina nem que seja de ouro; mas é uma pobre mina de cobre, falida e quebrada.

─ Serra, você está raciocinando como se fosse economista, coisa que não é. Desça no buraco, como Jesus desceu aos infernos, e ganhará a eleição. O presidente Echenique, seu aliado, está lá, faturando o fato. Ele representa a volta da direita ao poder, como você.

─ Não vou nem para reencontrar Pinochet, meu gorila predileto. E não estou em jejum, como os mineiros fizeram, para evitar um mal-estar gastrointestinal dentro da cápsula. Aí sim, eu ia gerar notícia.