O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar
(Berthold Brecht)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Os negros e a escola_ Defender as COTAS, defender os POBRES!


Embora seja de importância ímpar a questão das relações entre culturas, cores e raças, percebe-se que falta um trabalho mais aprofundado sobre o tema, inclusive, para que pudessem levá-lo à luz do conhecimento de nossos alunos. Continuamos, de uma certa forma, embora os próprios professores apresentem cores e culturas diversas, a reproduzir o currículo oculto. O não-dito se confunde, sobremaneira, com o maldito destino (idéia propalada a partir da inclusão-exlcludente) da negra ‘raça’.
            Penso, ainda, que em qualquer matéria há espaço para abordagem de tal tema, afinal o contexto histórico da construção das mesmas não pode ser ignorado, daí nos perguntarmos: Em tal e qual contexto houve a elaboração das conquistas de minha matéria? Por quê? Há uma cultura determinante na elaboração da ciência? Por quê?

Para além dos materiais didáticos e dos discursos docentes, as políticas curriculares, como discurso e como texto, podem desempenhar o papel de promover o reconhecimento das diferenças orientando os envolvidos no processo de transmissão cultural para a discussão perene sobre culturas e identidades dos sujeitos da educação. Os instrumentos possíveis de serem pensados para alcançarmos uma educação de fato inclusiva, dependem de uma orientação em torno de uma arena política onde os saberes interpretados como saberes “outros” ganhem cenário.
Ausenta-se do projeto escolar a inclusão da cultura negra em seus componentes curriculares. Ainda estamos presos ao paradoxo (ideológico) formulado da seguinte maneira: Falar de negro irá estigmatizá-lo e constrangê-lo junto aos demais. Além do quê, iremos praticar um racismo às avessas.
            Continuamos a ignorar a complexidade das relações raciais em nossa sociedade, promovendo assim, a continuidade da idéia de sujeito-objeto da ‘raça’ negra, perpetuando-a através de eventos da espécie de “Pedagogia do Exótico”, pois contraditória e casuística.

A escola não tem dado aos estudantes negros chances de refletir criticamente sobre o meio social, refletindo-o e subvertendo-o. Acabamos promovendo isso através da revolta, isto é, por não se sentirem representados, se revoltam de uma maneira ou de outra, uma revolta nem sempre compreendida por nós como ligadas às questões de divisão de classes, cores e etnias. A partir daí, embora de proporções acaloradas, a discussão evidencia um problema secular em nossa sociedade repleta de “Brasis”; levando-nos, muitas vezes, em pequenos grupos, a repensar, de uma certa maneira,  os conteúdos apresentados.
            Essa perspectiva ideologizante da escola vai de encontro às suas propostas de construção de um sujeito crítico e capaz de modificar a ordem social. Nesse sentido, a escola poderá ser um meio de manutenção das desigualdades sociais pelo uso de métodos simbólicos e indiretos de coerção social. A desconstrução dessas estratégias de dominação pode ser de difícil acesso devido ao crédito atribuído à escola como detentora do saber e da verdade absoluta, tornando-se mais fácil a interiorização e consolidação dos valores que perpetuam as inferioridades sociais.

Primeiro: Até que ponto não somos nós os promotores da divisão étnico-racial dentro da escola, reproduzindo a ideologia secular (elitista e branca)? Segundo: Até que ponto podemos mudar tal situação em termos de escola-trabalho? E, por fim: Será que não é tempo, já tardio, de revermos a nossa própria formação com mais cautela e a formação das ciências que ministramos enquanto matéria de conhecimento universal em sala de aula? Historicamente nota-se que a sociedade tende a restringir o acesso dos não-brancos à boa educação. Esta afirmação ganha respaldo se entendermos que, no contexto brasileiro, a esfera pública, sempre esteve ligada a moral das elites políticas conservadoras, que se fazem entender como Estado democrático de direito, aliás, cabe afirmar que não existe estado de direito, mas, sim, estado ideológico.

Assim, pensando o caso brasileiro, não podemos falar de desigualdade racial deixando de fora a educação. Um balanço mais apurado considera fundamental entender e aplicar os resultados dos últimos levantamentos  do índice de desenvolvimento humano (IDH).
Em resumo, a universalização do ensino público não garantiu mudanças expressivas no quadro nacional, especialmente no que diz respeito à população negra. O enfoque empreendido na educação tem permitido melhor desempenho da população branca porque a política universalista de nosso estado (capitalista) de direito focaliza a “todos” com cidadanias idênticas e possibilidades sociais equivalentes. E a inferioridade cultural sofrida pela população afrodescendente leva a uma diferença de oportunidades não consideradas nesse enfoque.



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